Perfil Pibid/Letras 2012 São Camilo ES



“O luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos. De água e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério é a simplicidade.” Assim como Rubem, o Braga, produz sua crônica “O pavão”, deliciando-se e deliciando-nos com a simplicidade que lhe é característica, estamos na capital secreta do sul do Espírito Santo com um instigante desafio: o aprimoramento linguístico dos alunos de nossas escolas parceiras nas ações do Pibid/CAPES Letras 2012. É no processo de letramento significativo nessa ação pedagógica que vislumbramos nosso maior luxo: a leitura e a escritura, grandiosas e plurissignificativas, porém com toques de esmera simplicidade, trabalhadas em contextos múltiplos. Assim, com os cachoeirismos de sempre, marca de todos os conterrâneos de Rubem Braga, façamos do Pibid uma forma de operar o milagre do verbo na vida de nossos alunos assistidos. Certamente, dessa forma, todos eles, gozando de maior proficiência linguística, da forma mais natural possível, podem afirmar, assim como Braga, “modéstia à parte, sou de Cachoeiro de Itapemirim”. Com este fim, alçamos voo todos os dias rumo a nossas escolas, às nossas salas de aula, aos alunos assistidos e à constitutividade de nossos sujeitos também matizados. Esse é o Pibid/Letras da São Camilo ES. Estes somos nós!

Coordenadora da área de Letras/Português do Pibid 2012 São Camilo ES



segunda-feira, 22 de julho de 2013

A (des)sacralização da biblioteca

por Rodrigo Davel 
Pibidiano (Bolsista PIBID 2012-2013)

A leitura é, sim, antes de qualquer coisa, um processo biológico. É, pois, um processo de interação entre autor e leitor, mediado pelo texto. Nesse processo dinâmico, ao qual o leitor faz uso de vários sentidos de seu organismo, o estímulo ao ato da leitura é primordial – assim como o estímulo da sede, da fome, do frio e do calor, por exemplo. E é a leitura a partir de estímulos o ponto nevrálgico na educação escolar, porque constitui um instrumento necessário para a realização de novas aprendizagens. Logo, faz-se necessário conhecer as concepções da linguagem, em específico da leitura. Porque só conhecendo as estratégias de leitura pode-se estimular ao ato de ler, uma vez que ler é prever, pensar, interagir. Sendo assim, o ambiente que irá receber o leitor é – também – protagonista do processo. A biblioteca, como símbolo de leitura, então, é o objeto ideal para uma análise do processo em questão. Estaria ela sendo utilizada de forma ideal? Para tanto, todo educador precisa ter ciência dos mecanismos que norteiam o processo de aprendizagem através da leitura, no entanto, tal processo tem sido compreendido tradicionalmente como um ato mecânico de decodificação de palavras, e as bibliotecas ganham aspectos de verdadeiras sacristias, ou laboratórios de científicos.
O vocábulo biblioteca, da etimologia da palavra ou em definições de dicionários, traz o significado de depósito de livros, móveis para guardar livros ou simplesmente conjunto de livros. E realmente a semântica tem sido posta em prática. O que se constata nas escolas, bibliotecas públicas ou particulares de todo o país é a divinização profana de tais espaços de leitura. Divinização porque são tratados como espaços sagrados, que guardam relíquias às quais se deve muito zelo, respeito e subordinação; profana, pois, paradoxal e hipocritamente, o zelo, o respeito e, consequentemente, toda a divinização é encarregada somente aos visitantes, ou usuários. Aos administradores se resguardam o papel de fiscalizarem o cumprimento das normas, das regras. Em uma pesquisa rápida no “oráculo Google”, pode-se encontrar inúmeras orientações para o uso da biblioteca divulgadas por escolas – de todos os níveis de ensino, bibliotecas públicas e outros espaços destinados à leitura. São regras rígidas e sérias, no sentido “chato” da palavra. São regras que exigem disciplina, concentração e predestinação do leitor à leitura. Uma criança, em pleno vigor da infância, com toda sua curiosidade e impulsividade, enxerga esse ambiente sacro como um purgatório.
A terceira edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil¹, de 2012, mostra que o brasileiro lê em média 4 livros por ano (uma informação que deve ser entendida com critério, visto que sabe-se que, ao se agrupar todos em uma média, igualam-se leitores de 20, 30 livros por ano a não-leitores). Este número é ainda menor do que o apresentado pela edição anterior da pesquisa, feita em 2007, quando foi constatado que se lia em média 4,7 livros por ano. Embora 67% dos brasileiros saibam que existe uma biblioteca perto de seus lares, apenas 1 em cada 4 cidadãos as frequentam, de acordo com o Retratos da Leitura. É com base em informações como esta que se pode responder à indagação supracitada: as bibliotecas não são utilizadas de forma ideal. Mas, não são os usuários os principais responsáveis. Na verdade, eles têm ambientes muito mais agradáveis para concorrer com o tempo que seria destinado a uma visita à biblioteca. Tendo como foco as crianças, raros são os casos em que uma criança, com todo vigor físico e criativo em expansão, que trocará um playground por uma biblioteca na qual as exigências são, a priori, o silêncio, a disciplina e o estudo independente. Assim, a pesquisa aponta que a má condição dos estabelecimentos é um dos principais fatores que contribuem para esse distanciamento do público. A Retratos da Leitura mostra que 20% dos leitores do país não vão às bibliotecas por causa da precariedade dos estabelecimentos. E não entenda precariedade apenas como prédio ou móveis velhos, inadequados; entenda, também, como falta de estrutura lúdica, estimuladora a visitas.
Lucila Martinez² “focaliza a necessidade de um trabalho que leve em conta as condições externas ao ato de leitura, como facilitadoras do processo.” Os mecanismos envolvidos no processo de leitura nem sempre são conhecidos ou considerados por aqueles que estão envolvidos com o ensino/aprendizagem da compreensão de textos. Porém, o conhecimento de mundo que o leitor possui é relevante na obtenção desta capacidade. Segundo a linguista Mary Kato (2000), “O conhecimento prévio que permite fazer predições pode advir do próprio texto ou informações extra textuais que provém dos esquemas mentais do leitor.” “Pra não dizer que não falei das flores”, há bibliotecas que já se afastam do paradigma paradoxal divino-profano. A Biblioteca Infantil Monteiro Lobato³, na cidade de São Paulo, segue um modelo mais despojado, menos sacro. A biblioteca apostou na atratividade, com a esperança de atrair as crianças, os jovens e também os país, é um espaço que pode ser utilizado – e é – como ponto turístico e área de lazer para a família. Além de salas com poltronas, pufs e tapetes para as crianças deitarem, a Monteiro Lobato conta com uma atração que poucas têm: um parque. O playground é da prefeitura, mas fica no quintal do prédio da Monteiro Lobato e é bastante frequentado pelo público da biblioteca. O espaço físico conta com a tematização e decoração inspirada na obra e personagens de Monteiro Lobato e apresentações folclóricas, teatrais e musicais acontecem no interior da biblioteca, desmitificando o obrigatório silêncio e o aspecto sisudo que esses espaços adquiriram com o tempo.
Como apontou a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil 2008, mais da metade dos frequentadores das bibliotecas são crianças e adolescentes. Assim sendo, é fundamental que as bibliotecas tenham espaços voltados para esse público. Espaços que os atraiam e os atendam com qualidade e na busca pelo prazer de ali estar. Ler é bom para todos, mas é ainda mais importante no aprendizado durante a infância e adolescência. Além da estrutura física agradável, é necessário ter acervo e programação específicos para esse público. O processo de mudança de cultura leitora aliado às inúmeras campanhas pró-leitura pode ser o fôlego que faltava para a transformação da biblioteca. Metaforicamente, pode ser este o momento para deixar de ser um casulo, com cores, asas e vida escondida, e ganhar o mundo, ser jardim florido. O que se vê são bibliotecas que vêm se adaptando ao processo de inovações tecnológicas ocorridas com a evolução da humanidade, ampliando sua abrangência a redes sociais, sites, blogues etc. Mas, só digitalizar o acervo não altera muito a percepção dos usuários. A atração precisa ser exercida, mesmo que em um canal tão atrativo como a internet.
Portanto, investir em campanhas que exaltem a importância e o caráter social da leitura é importante, fundamental (!); mas, o público capaz de assimilá-las é a minoria frequentadora das bibliotecas (como é possível constatar pelo resultado da pesquisa supracitada), um público adulto. O foco deve sempre ser as crianças e os jovens, o foco deve sempre ser a formação de novos leitores. Não que se devam abandonar os indivíduos já leitores assíduos; mas, estes já despertaram o gosto pela leitura e podem caminhar até a biblioteca por conta própria, já conhecem o ambiente e suas nuances – devem, inclusive, serem usados como iscas a novos leitores. Já os novos possíveis leitores, a geração seguinte, precisa ser estimulada, em meio a tantos estímulos que recebem sentados em frente a um computador no conforto e na liberdade de suas casas. É neste momento que programas como o PIBID/CAPES fazem-se essenciais. Pois o trabalho de metamorfose das bibliotecas depende de nova postura dos sujeitos atuantes no processo de ensino/aprendizagem: o professor – a escola. A biblioteca, então, não precisa ser um Jardim do Éden. Ela só precisa ser agradável e convidativa.

Biblioteca Infantil Monteiro Lobato - SP
Rodrigo Davel com o boneco "Saci Pererê", d'O Sítio do Pica-Pau Amarelo

Biblioteca Infantil Monteiro Lobato - SP
Rodrigo Davel com o boneco "Visconde de Sabugosa", d'O Sítio do Pica-Pau Amarelo

1: Realizada pelo Instituto Pró-Livro com apoio da ABRELIVROS, CBL e SNEL a terceira edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, foi lançada em Brasília, no dia 29 de março de 2012. A pesquisa é única, em âmbito nacional, que tem por objetivo avaliar o comportamento leitor do brasileiro. (...)Seus resultados ajudarão o próprio IPL bem como outras instituições públicas e do mercado editorial a orientar suas ações. O estudo tornou-se uma referência quando se trata do comportamento leitor no país, desde seu lançamento em 2001. Seus resultados foram amplamente divulgados e orientaram estudos; projetos e a implantação de políticas públicas do livro e leitura no país. Objetivo da pesquisa: Medir intensidade; forma; motivação e condições de leitura da população brasileira, segundo opinião dos entrevistados. http://www.prolivro.org.br/ipl/publier4.0/texto.asp?id=2834

2: Lucila Martínez, educadora, especialista em planejamento da Educação; pedagoga e Mestre em Biblioteconomia e Informação (Pratt Institute de Nova Iorque, EUA); Especialista em Inovação e Difusão Tecnológica (LNCC/UCP/Brasil), com vasta experiência na formulação de políticas nacionais para o desenvolvimento do livro, de ambientes favoráveis à Leitura e de sistemas locais e regionais de Inovação, na américa Latina e Caribe, bem como na coordenação de projetos internacionais para Banco Mundial, UNESCO, CERLALC, PNUD, OEA, BID, bem como em planejamento e coordenação de redes de sistemas de bibliotecas escolares e públicas. Radicada no Brasil desde 1986, além da consultoria internacional desenvolve e executa no Brasil, projetos que utilizam materiais multimídia e de inclusão digital, para o estímulo à leitura, educação e cidadania participativa. Planeja e coordena programas de educação continuada para professores, gestores e lideranças da educação, saúde, desenvolvimento social e meio ambiente. Responde pela direção pedagógica e editorial do Programa CRIANÇAS CRIATIVAS®.

3: A Biblioteca Infantojuvenil Monteiro Lobato é a mais antiga biblioteca infantil em funcionamento no Brasil e precursora de outras similares, tanto no município como no interior do estado de São Paulo, graças à educadora Lenyra Camargo Fraccaroli, que, além de dirigir a biblioteca até 1960, também incentivou e supervisionou a construção de bibliotecas infantis em vários bairros da capital. (...)Criada em 14 de abril de 1936, a biblioteca recebia o nome de Biblioteca Infantil Municipal. Sua criação fez parte de um amplo projeto de incentivo à cultura, elaborado por um grupo de intelectuais liderado por Mário de Andrade, então diretor do Departamento Municipal de Cultura. (...)Em 1955, a biblioteca passou a levar o nome do escritor que tanto encanta crianças, jovens e adultos, Monteiro LobatoHoje, a biblioteca conta com um acervo de 46 mil volumes, constituído por obras de literatura infantil, juvenil e literatura geral, livros didáticos, paradidáticos, dicionários, enciclopédias, jornais, revistas, recortes, mapas, atlas, CD’s, DVD’s, fitas cassete, CD-ROM’s, entre outros. (...)a Biblioteca Infantojuvenil Monteiro Lobato possui uma gibiteca, seção de livros de teatro, o acervo Monteiro Lobato, o Teatro Infantil Monteiro Lobato/TIMOL, o auditório Lúcia Lambertini, espaços multiuso, programação de peças de teatro, sala de vídeo, visitas monitoradas com escolas, atividades permanentes para crianças, como contações de histórias, e tantas outras. 


3 comentários:

  1. "O que se constata nas escolas, bibliotecas públicas ou particulares de todo o país é a divinização profana de tais espaços de leitura. Divinização porque são tratados como espaços sagrados, que guardam relíquias às quais se deve muito zelo, respeito e subordinação; profana, pois, paradoxal e hipocritamente, o zelo, o respeito e, consequentemente, toda a divinização é encarregada somente aos visitantes, ou usuários."

    Análise muito verídica, o trabalho do PIBID ajudará os professores a reverterem essa situação. Livro é pra ser lido, relido, amassado e se necessário num primeiro contato, até rasgado. Em prol do desenvolvimento do prazer da leitura, TUDO é válido.

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  2. As concepções de linguagem foram tomando novos conceitos com o passar dos anos. A influência sociocultural e a abrangência do direito à educação a todas as classes sociais fizeram com que o ensino da língua fosse repensado e reestruturado. Pensemos,pois, também, em uma ressignificação das bibliotecas. Ótimo questionamento, Rodrigo!

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  3. As bibliotecas recebem visitas no Brasil? Sim. Mesmo que de alunos empurrados pelos professores; obrigados; para cumprirem "castigos". Mas, lá estão eles, em um momento que poderia ser privilegiado. Poderia ser divertido e pedagógico. Mas, lá, no espaço sacro da biblioteca, o jovem é obrigado a cochichar, permanecer sentado, folhear livros sem o mínimo interesse etc. Raras são as exceções. Existem, sim, atividades isoladas e esporádicas; porém, de permanente atratividade(?), raras, como o exemplo que cito no texto.

    Cabe a nós, "né"?

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