Aos, também, apaixonados pelas letras, uma dose diária de Manoel de Barros só nos faz ter a certeza de que, como já nos disse Pessoa, da forma mais pessoal possível, tudo vale a pena. E nessa dimensão plural do amar as letras, de ser pessoa e de transformar pessoas pelas letras, nos vemos como professores de agramática. Nessa visão quixotesca e subjetiva de se fazer professor e de ser professor, podemos nos espelhar no grande mestre Padre Ezequiel, aquele que fez nosso grande encantador de gentes, Manoel, se permitir limpar seus receios. Ser professor, ser pesquisador, ser preceptor, como Padre Ezequiel, certamente, deve ser, em conformidade com os avanços linguísticos, sermos agramáticos e limpadores de receios. E aí, haja receio para se limpar: fonéticos, morfológicos, sintáticos,... e nos permitirmos amar o semântico, o discursivo, o belo, o novo. Amar a Língua Portuguesa e fazer nosso aluno perceber-se capaz e querente por esse dizer. E querê-la sem peias, sem ressalvas, sem pudores...
“Descobri aos 13 anos que o que dava prazer nas
leituras não era a beleza das frases, mas a doença delas.
Comuniquei ao padre Ezequiel, um meu preceptor, esse gosto esquisito.
Eu pensava que fosse um sujeito escaleno - Gostar de fazer defeitos na frase é
muito saudável, o Padre disse.
Ele fez um limpamento em meus receios.
O padre falou ainda: Manoel, isso não é doença, pode muito que você carregue
para o resto da vida um certo gosto por nadas...
E se riu.
Você não é de bugre? – ele continuou.
Que sim, eu respondi.
Você não é de bugre? – ele continuou.
Que sim, eu respondi.
Veja que bugre só pega por desvios, não anda em
estradas
- Pois é nos desvios que encontra as melhores surpresas e os ariticuns maduros.
Há que apenas saber errar bem o seu idioma. Esse padre Ezequiel foi o meu primeiro professor de agramática.
(...)”
(Manoel de Barros, O livro das ignorãças, p. 87)
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ResponderExcluirEspero que encontremos bastantes sujeitos escalenos por aí... Manoel de Barros, você me encanta a cada dia!!!
ResponderExcluirComo não se encantar com Manoel Simone? Eu fico enamorada a cada letra e poesia lida... a esposa dele que morre de ciúme das moças que lá aparecem encantadas... rs
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