(Re)Significar é o
segredo. O segredo da vida; da morte; do professor; do aluno; da escola; meu;
seu; de Rubem. Para este, no entanto, era algo fácil, trivial, encantador.
Bastavam algumas palavras organizadas em frases, boas ideias, um momento de
epifania e pronto. Mais uma de suas significativas crônicas estava fresquinha
para os leitores assíduos de Rubem Braga poderem ressignificar suas leituras,
suas vidas. E não me refiro aos ilustres Manuel Bandeira, Drummond, Vinícius de
Moraes, Veríssimo ou tantos outros mestres das palavras que o reverenciaram.
Refiro-me, também, e a priori, aos cachoeirenses orgulhosos do filho da terra,
aos cariocas anfitriões do rabugento e genial cronista, assim como
pernambucanos – aqueles da família silva, gaúchos, enfim, ao Brasil das
crônicas de Rubem Braga. É crônica de crônica. É o (re)significar do que Ana
Karla Dubiela¹ apresentou aos presentes ao Teatro Rubem Braga, em Cachoeiro de
Itapemirim, e é, também, significar o velho Braga aos bolsistas do PIBID/CAPES²
do Centro Universitário São Camilo.
Claro e evidentemente, quem vos escreve
‘não é ninguém, é só...’ um cronista. Um passarinho a ser observado pelo conde,
enquanto manifesta pelo mundo – ressignificando-o. Não somente a si próprio, ter
um mundo novo só seu até que é legal!, mas, ter um mundo novo para dividir com
mais alguns que é o verdadeiro pavão, cheio de cores e beleza e vida e só com
água e luz: ‘um luxo imperial’. Então, levar esse mundo para a escola, uni-los,
crônicas – dele, preferencialmente – e escola, professor, aluno, é o que os
bolsistas do PIBID/CAPES buscam. Levar às escolas encantamento, simplicidade e triviliadade
de viver. Levar, assim, letras e leituras que aproximem o aluno de seu
contexto, de seu mundinho particular e indecifrável aos estrangeiros. Se o
velho estivesse lendo esta crônica, certamente diria, com sua modéstia; ou com
seu charme – como alertou Ana Karla, ‘mas eu sou só um jornalista! Vão ler Mary
Kato, Ângela Kleiman, Coscarelli³ etc.’ Sim, todos são leituras obrigatórias ao
fazer docente, coerente e eficiente. E são lidos, relidos, significados,
ressignificados e postos em prática. Entretanto, As boas coisas da vida, aquelas à beira d’O Amarelo, são você que nos mostra.
O momento com a estudiosa cearense foi revelador,
assim como o Triste fim de tuim,
levou a reflexões prazerosas e instigantes. O centenário do cronista, o
príncipe das crônicas, aliás, deve ser tomado como uma epifania crônica
(perdoe-me o trocadilho!? Ou não perdoe... afinal, o velho abusava da ironia, a
face da inteligência em modo fino e sagaz), a ser (re)visitada todos os dias. E
momentos como esse, assim com os textos do autor cachoeirense, são necessários
para o aprimoramento do sujeito frente às necessidades cotidianas. São ao
professor e ao aluno. Educação é feita de muitas visões de mundos.
Multipossibilidades de conceituar os fatos. Está aí, então, o papel mediador e
transformador da crônica, por exemplo, dentro da sala de aula. Este gênero,
pois, que dialoga com seu interlocutor de forma dinâmica, clara e tão próxima
que faz do cronista cachoeirense um atemporal cronista brasileiro.
Portanto, a crônica, a mesma com que
Caminha inaugurou nossa história, a Mãe
de nossa literatura – e ‘mãe é chaaata...’ – quer e tem capacidade para cuidar
dos filhos da pátria amada. E que ninguém, muito menos os bolsistas
PIBID/CAPES, feche os olhos para esta Borboleta
amarela. E que cada um a assuma como sua, se assim fez Braga. E que dela
faça metamorfoses e voos suaves, coloridos e em busca de cheiros, gostos e
cores que ainda não as tem, que ainda não provou. Que com ela viaje a Paris, vá
a frentes de guerra, reconheça a greve dos patrões, perca o medo dos trovões.
Essa borboleta que bateu asas em sua arcaica máquina de escrever pela última
vez há cem anos ainda continua a passar pela cabeça de condes, mulatos e
silvas.
1: A jornalista e
escritora cearense Ana Karla Dubiela, uma das mais importantes pesquisadoras da
obra de Rubem Braga, esteve em Cachoeiro de Itapemirim, no dia 20 de março de
2013, para participar de um bate-papo sobre o cronista cachoeirense. O evento,
no Teatro Municipal Rubem Braga, com entrada franca, promovida pela Secretaria
Municipal de Cultura, integra as comemorações do centenário do escritor na
cidade.
Especialista em estudos
literários, mestre em literatura brasileira e doutora em literatura comparada,
Ana Karla estuda a vida e a obra de Rubem Braga desde 2004. É autora de três
livros sobre o escritor, considerado o pai da crônica moderna. Este ano, lançará
mais um, de título “As cidades de Rubem Braga e W. Benjamin – Flanando entre
Rio, Cachoeiro e Paris”. O livro foi aprovado pela Lei Rouanet e está em fase
de captação de recursos. O lançamento está previsto para o próximo semestre e
vai fazer parte das comemorações do centenário.
No evento, a
pesquisadora falou sobre questões como a simplicidade, o lirismo e a crítica
social presentes no texto do cronista. Ao final, o público pode direcionar
perguntas à estudiosa, à maneira de um bate-papo.
2: O PIBID (Programa Institucional de Bolsa de
Iniciação à Docência) é um programa de iniciativa do governo federal, por meio
da CAPES (Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) que, entre
outros objetivos visa incentivar a formação de docentes em nível superior para
a Educação Básica; contribuir para a valorização do magistério e elevar a
qualidade da formação inicial de professores nos cursos de licenciatura.
Adaptado de :
3: Mary Aizawa Kato, Ângela Kleimam e Carla Viana
Coscarelli são três pesquisadoras linguistas, referências em estudos sobre o
fazer docente e as multipossibilidades de aprendizado da leitura e da escrita,
além de fomentarem importantes discussões acerca da ressignificação do ato de
aprendizagem e, consequentemente, da escola.
Rodrigo de Assis Davel - aluno bolsista Pibid/Capes 2012 São Camilo Espírito Santo
Alunos bolsistas Pibid 2012 São Camilo ES em palestra no Teatro Rubem Braga em Cachoeiro, com a escritora Ana Karla Dubiela
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